quarta-feira, 11 de junho de 2008

Pseudo-acontecimentos e manobras de bastidores


O espaço mediático é finito. Mas a luta por ele, por vezes, parece não ter fim. Da concorrida disputa, ganha quem apresenta os melhores argumentos. Quero com isto dizer, que só aparece num meio de comunicação social quem apresenta uma estratégia de comunicação marcante ou melhor delineada. Diariamente, chegam às redacções várias informações que pretendem ocupar o restrito espaço mediático. O desafio por quem divulga os acontecimentos é o de atrair os jornalistas, pois à partida, por detrás da divulgação de algum acontecimento existe um interesse subjacente do autor da mensagem. Assim se justifica a existência de pseudo-acontecimentos que pretendem revestir-se de valor mediático e atrair o jornalista. Torna-se essencial saber que informação interessa ao jornalista para o conseguir manter atento.

“Como atrair os jornalistas para mim?”

Um dos meios é exactamente criar factos políticos, baptizados por Daniel Boorstin como “pseudo-acontecimentos”. Por pseudo-acontecimentos entendem-se os acontecimentos que por si só dificilmente apresentam matéria susceptível de ser notícia. São realidades fictícias criadas com o propósito de despertar o interesse do jornalista. O historiador Daniel Boorstin falou pela primeira vez do conceito no livro, The Image: A Guide to Pseudo-events in America e apresentou o pseudo-acontecimento da seguinte forma:


1. Não é espontâneo, mas planeado e produzido com antecedência.


2. É produzido para ser objecto de cobertura mediática, para adquirir visibilidade.


3. Não possui necessariamente relação directa com factos reais: o contexto e os ingredientes da "produção" tornam-se mais relevantes.


4. A
sua relevância decorre sobretudo de ser construído para ser relevante e apresentado como tal.



Vejamos agora alguns casos enquadrados no tema:

Bill Clinton, conhecido pela sua preocupação alarmante com os media, esteve envolvido num escândalo sexual com a estagiária Mónica Lewinsky. Inicialmente o presidente procurou desacreditar o mensageiro.
Perante as provas contrárias, o presidente não encontrou outra solução senão assumir, como mandam os manuais de gestão de crise, o caso com verdade e transparência. Mas o presidente tinha escondida uma estratégia capaz de desviar as atenções do embaraço político e
diminuir o impacto que afectava a sua imagem. De forma a desviar as atenções dos jornalistas e da voraz opinião pública, Bill Clinton mandou bombardear uma aldeia do Sudão. Mais tarde veio-se a confirmar que essa acção não passou de uma manobra de bastidores. Esta acção visava adulterar o auge mediático e minimizar os danos causados com o envolvimento no escândalo sexual. Uma manobra de diversão a fazer lembrar as protagonizadas por Conrad Brean em Wag the Dog (bombardeamento da Albânia).
Aliás Conrad Brean é consultado para desviar as atenções do presidente que também se encontra envolvido num escândalo sexual (sátira a Clinton?).
A obra de Barry Levinson também apresenta uma sátira com resultados práticos…na administração Bush.
Curioso, no mínimo, o paralelismo verificado entre o caso do Sergeant William Schumann e outro ocorrido na administração Bush – Jessica Lynch. Em ambos os casos (fabricados) era importante manter os resgatados em silêncio.




















Os políticos, por regra, não olham a meios para atingir os fins. Criam um conjunto de factos para influenciar a Opinião Pública. Durante a sua governação, George Bush demonstrou astúcia em criar factos políticos. EUA justificaram a invasão no Iraque devido a uma alegada posse indevida de armas de destruição maciça. Veio-se a saber mais tarde, que a decisão polémica era baseada no fabrico de um facto.



Enquadramento do tema na série “Os Homens do Presidente”:

No 12º episódio da quinta série, “Um dia pouco movimentado”, a equipa de assessores depara-se com a ausência de temas para oferecer aos jornalistas. Sem informações, a administração de Bartlett torna-se um alvo apetecível para a investigação dos jornalistas.
Após a conferência de CJ sem material noticioso, um jornalista ameaça CJ com uma história exclusiva no jornal do dia seguinte. O secretismo volta a marcar os passos dos assessores, sobretudo de Toby. Em conversa com o Presidente Bartlett sobre um programa com o objectivo de salvar a segurança social para as futuras gerações, Toby ouve a seguinte declaração “se a nossa conversa vem a público, os dois lados vão enlouquecer”. No rescaldo da conversa Toby vai ter que convencer o influente senador republicano Gaines “sem ninguém saber”. Aparentemente consegue o que quer, mas escapou-lhe por entre os dedos o “sem ninguém saber”. Alguém viu o encontro dos dois e decidiu denunciar o encontro à imprensa. Toby tem pouco tempo para encontrar uma estratégia capaz de solucionar o problema em que se encontra. Jornalista tem em mãos a história do aumento da reforma. Toby avisa o jornalista, “não escrevas essa história”. No entanto demover as intenções do jornalista para ser uma tentativa em vão. Complica-se a tarefa de conseguir o apoio do senador Gaines. Ao sentir que está a prejudicar a política de Bartlett, Toby decide colocar o lugar à disposição. Nem sempre as estratégias resultam, nada é dogmático e influenciar Gaines era importante para criar dinâmicas sociais. Por fim, em conversa com Josh conseguem sentar à mesa o senador democrata Turner para tentar ajustar um acordo bipartidário que beneficie o país.


Um comentário:

João Paulo Meneses disse...

Nuno,
O seu trabalho passa claramente ao lado do tópico ao qual tinha de responder (desenvolvendo): porque é que os políticos não gostam/usam a comunicação de crise.
O seu trabalho passa em revista a matéria do semestre, desenvolvendo topicos sem qualquer relevância para o nosso contexto (soundbites, sondagens) e não valorizando aqueles que deviam ser valorizados (o spinning).
Registo a pesquisa que fez na net, sendo que as ligações para os episodios de Os Homens do Presidente (surfchannel.com, penso) não funcionam;
falta ao seu trabalho uma introdução e uma conclusão.